Ouvi falar tanto dessa palavra, mas esse "treco" nunca havia me assoado com tanta intensidade.
Tédio, ócio, pasmaceira, monotonia, fastio...
Tá tudo muito chato, apesar da novidade.
Pros leitores que não sabem, vim morar num paraíso inóspito chamado
Vila Muriqui. Vila? Talvez! Muriqui? Nenhum
jogador e nenhum
macaco!
Enfim ...
Cidadezinha pequena onde se ouvem apenas Bem-te-vis (com hífen?), sanhaços e sabiás (aprendi até os nomes dos bihinhos).
Chato é você estar almoçando e ouvir aquele "piu piu piu" infernal!
De noite, os sons são substituídos pelos "ics ics" dos morcegos (cubram as fruteiras: eles invadem as casas!), e de vez em quando, anualmente, quando rola uma festinha de rua, vc ouve "você não vale nada mas eu gosto de vc" nos melhores dias, mas quando a galera do Morro da Encrenca (é, ele existe mesmo!) está de mau humor, a trilha sonora que nos assombra é "sou sua laranja, vem me dar uma chupadinha", música do mesmo segmento da primeira.
Triste a minha realidade, mas é verdade.
Vamos aos points:
Quinta? Bar do Bigode. Mas não adianta ir, porquê não tem ninguém lá.
Sexta? Bar do Bigode. As chances de encontrar alguém lá são maiores. Seriam maiores ainda se for feriado ou algo do gênero.
Sábado? Bar do Bigode! Por que não?! Aí tem uma galerinha mais conhecida, que já é minhoca convicta. "Oiiiiiiii migaaaa" são frases ouvidas constantemente na orla.
Domingo? Bar do Bigode até serve, as vai estar vazio de novo. De repente um passeio a beira-mar durante o crepúsculo é bem vindo.
De segunda a quarta o percurso é o mesmo: praia de manhã quando há sol (aqui é o penico de São Pedro, Jah que me perdoe!), de tardinha passeio na orla e um salgadinho da Doce Mania é sempre bem vindo!
Festa? Faça convites, com leitura invísivel ao olho nu, e visível a luz negra. Senão meia cidade é capaz de aparecer se dizendo "primo", mesmo sendo ex marido da vizinha da tia da sua prima. Aqui todos são parentes, mesmo não sendo, e tendo porranenhuma a ver.
Continuando nas festas, todas elas - veja bem: TODAS - são americanas, e se você se amarra numa loira gelada, se não levar não bebe.
Toquei no assunto principal da cidade: cerveja.
Aqui, todos são amantes da Brahma, mas se contentam com a Itaipava quente do Bigode. Fazer o que? R$ 5,00 duas garrafas. Melhor do que nada...
Difícil encontrar com alguém que não beba (salvo os crentes e cachorros, porque até as crianças desse lugar são cachaceiros), e os mesmos são capazes de matar por um gole do ouro líquido.
Ah, esqueci de mencionar o famoso e célebre Bar do Caetano, ou Cantina do Rocco.
Lá só ficam os roqueiros fedidos, e crianças que usam a lan house dele. Nada contra, mas até que gosto do ambiente: cachaça barata e música boa.
Lugarzinho romântico até que tem. Pra fazer uma média com a gatinha, os meninos levam as gatinhas no Gabirol. Nããããooo genteee! Lá é uó, só tem velho, um cara que sua que nem um porco que acha que canta alguma coisa (outro dia ele tava com uma camisa verde clara que tava mais manchada daquele suor melequento que perdi até a fome). Mas até que serve pra quem está com fome: a comida é boa... (momento mensagem subliminar: Comam no Restaurante do Naldo!)
E não posso deixar de falar do carnaval! Ah, o carnaval!
Pessos cheirosas (Uhul! Leite de Rosas debaixo do braço!), lindas (com direito a pessoas afro-descendentes com peróxido de hodrogênio nos capilares e o óculos de armação branca no meio da testa - tem que ser na testa!!) e belas vindas diretamente dos paraísos fiscais chamados Vila Kennedy, Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis.
Ônibus de passeio (piratinha sem banco, cheio de buraco e o motorista parece o Fred Mercury antes da cirugia de estômago) é o que há, a Rua Santana (a minha) que o diga.
Crianças melequentas na beira da água da praia, as mães: "Uóshitu Vinícius, suspende essas calças!", ou "Estéfani Vitória vem bebê uma água menina", cachorrinhos defecando na areia, pessoas de tons de pele escuros dançando de sunga e biquini no meio da rua ao som do "mestre Catra". Cantos de boca sujos de farofa, havaianas perdidas, celulares roubados e falta d'água na cidade.
Coisa boa é a Banda do Banana (momento mensagem subliminar 2).
Pros solteiros: um tédio! Pros comprometidos: nem tanto, mas é um tédio às vezes.
Adoro esse lugar, mas para morar, está um pouco difícil para me adaptar. Vamos ver até onde isso vai.
Tristeza maior foi ter deixado amigos para trás, mas de algum modo, eles estão bem perto de mim...
Mas aqui também estou perto de algumas pessoas que eu amo. Algum lado positivo isso tinha que ter.